O corpo

Arte como compreensão de vida

Pelos não silenciamento de nós mulheres e dos nossos corpos!
Podemos sim ter um corpo subversivo, ancestral, animal…

A minha forma de não me silenciar foi através do corpo, colocando-o pra jogo, pra fora,
exposto.

Um corpo que já pariu…
que já se transformou,
que ignora padrões.

Que é bonito por tudo o que já adquiriu e não por ter as melhores medidas.
O belo não é pra ser sexualizado como um pedaço de carne à disposição.
O apreço não pode ser sinônimo de violência, não pode ser invasivo.
Quando eu me sinto invadida eu já sofri uma violência… muitas vezes não identificada, não
valorizada, não validada…

Mas ela está ali, ela existe.

Então façamos um trabalho em conjunto para que não estejamos sozinhas com as nossas
dores individuais.

As armaduras que precisamos carregar já são pesadas demais…

Demonstrar raiva, não me foi possível… ainda mais em fotografias onde eu fui ensinada a estar
sempre sorrindo…

Nos bastidores eu até consigo fazer cara de deboche, mas a real é que às vezes me paraliso… e
não consigo enfrentar o que está me ferindo…

Eu sei que muitas pessoas podem vir a dizer: “Ah, mas ela só está querendo chamar a
atenção!”. Não só, mas talvez esteja mesmo.
Quero chamar a atenção para o meu corpo, mas para ser apreciado de um outro lugar. Quero
chamar a atenção pela criatividade, espontaneidade, dedicação… que eu ou qualquer outra
mulher possa ter…
Por detrás das câmeras estiveram outras duas mulheres incríveis que me apoiaram e
realizaram tudo isso junto comigo.
E a questão é essa: esse ensaio não é sobre mim, é sobre todas nós, com lutas e mundos
diversos, entretanto com vontades em comum, de sermos vistas e respeitadas como somos.

 

Marcela Aroeira