Não monogamia é um termo em disputa. Quanto mais falamos sobre este tema mais podemos discordar ou concordar sobre o que isso significa.

Então vou dar aqui a perspetiva que encontrei baseada nos meus estudos, quando eu estava escrevendo a minha dissertação de mestrado em Psicologia Clínica. Apesar de não ter sido defendida (vicissitudes da vida me fizeram não acabar), me rendeu muito conhecimento sobre esse tema e até mesmo a ideia para o meu projecto profissional, o Amores Plurais.

De acordo com Burleigh, Rubel e Meegan (2016), as não monogamias são definidas como relacionamentos nos quais as pessoas acordam ser permitido ou desejável ter relações afetivas e/ou sexuais com quem quiserem. Aqui estamos falando com base na sociedade ocidental, aonde a monogamia é o padrão de uma construção social e política historicamente estabelecido como regra (Perez & Palma, 2018).

Portanto a ideia da não monogamia costuma surgir a partir de um casal monogâmico, mas também pode surgir de forma singular, partindo de reflexões subjetivas e questionamentos de uma pessoa que está sozinha.

Estas relações podem ser representadas, teoricamente, através de cinco modelos: relacionamento aberto, swing, poliamor, anarquia relacional e relações livres (Silvério, 2019). Os nomes dados aos tipos relacionais dentro das não monogamias tem a ver com a forma como cada grupo se relaciona com amor e sexo, não sendo meramente uma questão de modismo (Kean, 2017).

Estes modelos estão divididos desta forma para que possamos compreender melhor este funcionamento, para que outras pessoas possam identificar-se ou não com algum deles. Entretanto na prática tudo acontece de uma forma muito mais fluida (Rubel & Bogaert, 2015).

Podemos pressupor que talvez os grupos cumpram uma função de acolhimento para pessoas que pensam as relações de forma semelhante.
O swing e as relações abertas partem de um ponto comum por ambos serem acordos entre casais aonde é permitido haver apenas interações sexuais externas à díade do casal. A diferença está no facto de que os casais swingers tendem a ter uma prática em conjunto, com outras pessoas, ou seja, o casal interagindo sexualmente com outras pessoas compartilhando o mesmo ambiente. Normalmente há uma performance de relações heteronormativas com exceção de interações entre mulheres.

Muitas pessoas estudadas no tema, inclusive eu, já não consideram nem o swing nem as relações abertas como modelos representativos de não monogamia, mas sim como extensões mantenedoras da monogamia. Essa crítica parte da ideia de que estas são práticas onde não há um questionamento da estrutura social monogâmica em que vivemos.

Nos relacionamentos abertos ou monogamias abertas (saiba mais sobre o termo original: “Monogamish”) as interações com pessoas externas ao casal ocorrem de forma independente. Os encontros podem ser feitos em separado, apesar de ser comum o estabelecimento de regras para que isso aconteça. Geralmente com o tempo essas regras vão caindo pouco a pouco por ficar insustentável de serem mantidas.

O poliamor se trata da possibilidade em amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo e estabelecer relações íntimas, amorosas e/ou sexuais em simultâneo. Esta dinâmica pode ser hierárquica ou não, aberta ou fechada, com relação ou não entre metamores. Enfim, tem uma infinidade de possibilidades e conexões. Por outro lado, o termo “poliamor” por vezes tem sido difundido com muitas deturpações.

Ou seja, pessoas que não percebem do que se trata, podem ficar com a ideia de que o “Poli” tem sempre a ver com ter várias pessoas e fazer sexo pervertido numa cama gigante. Também pode ser! ou não! Entretanto sem essa negatividade associada ao sexo.

A anarquia relacional, parte de um direcionamento político que tem como intuito tornar as relações mais igualitárias, sem hierarquizações. Faz críticas ao casamento, a família nuclear e ao Estado.

Já as relações livres são pautadas num ideal de amor libertário e essa nomenclatura só foi utilizada por um grupo específico no Brasil (Silvério, 2019).

Apesar de existirem definições sobre os tipos de relações existentes e sobre os “objetivos” relacionais de cada grupo, essas definições são fundamentais para a compreensão do funcionamento dessas relações. Entretanto, existem intersecções em termos de sentimentos, vontades e graus de consciência política em relação à monogamia enquanto sistema estrutural.

Nesta disputa de termos, e diferentes graus de consciência política surgiu também o conceito de não monogamia política, que destaco separadamente, por não se tratar de um modelo relacional. Se trata de um projeto coletivo e emancipatório que é anticolonial, interseccional e anticapitalista. É um posicionamento político que faz crítica à monogamia enquanto uma estrutura social, que está presente em diversos contextos da nossa vida, não só nas nossas relações interpessoais.

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